Recado ao transportador



Há uma paragem
que guarda tantas impressões
passagens, momentos, lugares
arrebóis, acenos de chegada e partida,
lágrimas que foram minhas e de outrem,
sorrisos de ontem, palavras azuis também acres,
silêncios agudos necessários e também delicados,
dias de amores e desamores em desalinho,
abraços regalados e deliciosamente concedidos,
recados em guardanapos e deixados na escrivaninha
“Nini, fui à missa e volto mais tarde pra te buscar. Beijos de sua mainha”
o sentimento bombeando um peito álacre
a ansiedade que era boa e fazia a pupila dilatar
ampliando os horizontes,
os encontros marcados depois do trabalho
o sentar ao lado para receber cafunés depois do café,
as cartinhas infantes coloridas repletas de amor eterno
as roupas blandilicamente costuradas
as gargalhadas provocadas pelo seu bom humor
o debruçar na janela e conversar parvoíces no fim de tarde antes das novelas
o repousar depois do almoço e ouvir seu leve ressonar
sentir seu coração bater quando lhe assaltava com um abraço inesperado.
tudo muito bem arquivado
devidamente etiquetado: cuidado, FRÁGIL
pois tudo isso cabe nesse território de 'ficamentos' 
que constituem o meu peito
que embalsamam a minha alma.


Jaquelyne Costa - Janefli desde nascença

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Travessia da saudade

Poema do sim e do não