In memoriam



Quando atravessei a rua
era noite
E todo o silêncio havia dentro de mim,
Escuro como aquela noite
Quando te vi adormecer para sempre
E nem pude mais saber
O que pensavas
Já que tua voz havia sucumbido pela doença
Enquanto uma lágrima solitária
Escorria-lhe como que a dizer adeus
O último
O que tanto temi.
Eu sopro de mim
Essas coisas tristes
Mas elas sempre voltam
Como o vento devolve ao chão
Toda a poeira já varrida.
Ainda hoje me dói
uma espada invisível
Fixada ao peito
A cena em que parecias uma santa
Naquele caixão
Uma face lívida e leve
Como criança que, displicente, ri
Enquanto sonha
De fato, deves ter tido a visão
Do teu novo lar
Mais pacífico e regado de uma felicidade
Que não se pode ter por aqui.
E me resta essa esperança
(lamparina acesa)
Quando for minha hora
Que, sorrindo, possas me buscar
Para viver o que muito prematuramente
Nos foi negado
Toda a alegria não compartilhada
Todo o progresso conquistado
As flores que não te pude dar
Os abraços que tive em demasia
Para te entregar
O nosso amor singular e puro
Sentimento que me fez permanecer nesse mundo sombrio sem ti.


Jaquelyne Costa - Janefli desde nascença

Comentários

Jaquelyne Costa disse…
;) Que bom ter a sua presença por aqui...
Ricardo Dib disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Dib disse…
Venho comentar esse texto exatamente 1 ano depois de ter sido postado.

Quando "perdemos" alguém, um sentimento de total impotência no invade. Nada do que fizermos vai reverter o fato. Então somente nos restam duas opções:
1) acreditar no nada
2) acreditar na esperança

A Esperança, que parece ser a tua opção, te fez escrever tão belo texto.
¨

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