Jaqueneu


Numa extensão indefinida

Encontra-se a esmo

Paredes transparentes

Entrecortadas por muralhas de flores

Onde se penduram palavras

De previveres, santiamêns, e passados.

Há uma delicada camada

De sedas guarnecida por vozes

De conchas, búzios

Espuma de mar e estrelas cadentes

Fragmentos de sol e um pó prateado

Das essências de Juno.

Às vezes o silêncio que habita os segredos

Marinhos povoam as gretas de um

Instinto poético que aumenta

A cada estilha perdida

Pois só é inteiro

Aquilo que se esperdiça.

Dimensões de uma escultura

Denunciam escarpas

Que elevam sucintos desejos

Ao mais alto dos sentimentos.

Nesse lugar não há espaço

Para o que é mórbido e incubicioso.

Não existe caminho certo para alcançá-lo,

Apenas se sabe das portas ornadas de absintos,

Gerânios, sensitivas e cravos cheios de lágrimas

Que escorrem formando um moinho

De saudades, viveres, amores, felicitudes e mágoas.

Uma planície sincera

Se estende até um rosto turvo

Que não se achará outro mais tristonho

Quando é noite de vésperas e sonhos e sombras.

O calor , não o exagerado, derrama uma grave impaciência

Para saltar os raios de febo e mergulhar num azul

Que não se sente frio nem morno,

Apenas se sente.

As paredes, aqueles concretos de flores,

Deambuleiam a correr formas ora estreitas, ora largas,

Ora não existem,

e se alteiam em favas de vidro dealbado.

As palavras, algumas palavras moram tranqüilas

Enquanto outras chocam-se como átomos

Para formarem a eterna Poesia.

Não há um momento certo no Jaqueneu

Para que lá se encontre a pitonisa Janeflí,

É preciso esperar sua manifestação involuntária

Como o desabrochar da rosa.

Neste lugar sagrado

Acordam-se os sentimentos benignos

Necessários para a nascitura criatura

Que o tempo desatou da fuga do vento

Que sobrevoa a mais pura água

Onde tudo se renova.

Mas há, de certo, um recinto

Cristalino e raro feito

Onde cores se misturam

A guarnecer um precioso carbono lapidado:

O Amor – que nunca se acaba.

Essa é a maior fonte de energia do Jaqueneu

A chama que jamais será cadente;

O púlpito donde se proclamam as mais belas palavras

Da Poesia eterna e magnificada;

A correnteza das palavras que correm

Livres no peito de Janeflí;

A Altair que guia as esperanças douradas;

O crepúsculo esticador de laranjas e rosas do sol;

As sementes que se guardam na terra

Para crescerem árvores onde se descansem os corpos

Cansados e fatigados;

O ar resguardado das montanhas

que buscam alcançar o céu.

Há uma sonância ecoando nos labirintos

E quanto mais se anda

Mais perto se sabe onde nasce

O poema escrito nas estradanças

De uma vida antiga e sempre nova por fazer.

É de música, também, feito o Jaqueneu:

Uma maneira de chegar à salvação da alma

Através das notas que tocam o tecido (in)grato do tempo.

O Jaqueneu é a casa,

o forte jalme,

onde serenam

A memória, o perdão,

os acontecimentos findos,

Os pedidos ex corde,

o passado intangível,

As ameaças de frutos,

Os sóis dos arrebóis assistidos,

As luas tão próximas da janela,

Os arranhões adquiridos alheiamente,

As solidões impostas e as não,

As criaturas almíficas-marinhas,

Um pedaço de mar – herança de silêncio,

Os papéis arrecadados

portadores de uniões de letras e cálices-emoções,

o gosto suave das manhãs recepcionadas por beijos,

as tardes pintadas por um jenolim de traços delicados,

as noites dum céu bordado por botões de luzes,

E todas as outras coisas

(que o infinito adoça com as mãos efêmeras da existência)

muito mais que lindas

para sempre cravadas no tempo estarão.


Jaquelyne de Almeida Costa

Comentários

Anônimo disse…
Lindu como sempre amiga..
Giuseppe Menezes disse…
Nossa, que vontade de conhecer o Janequeu e seu cravo chorão. ^^
Um lugar como estes só poderia mesmo ser fundamentado no amor.

Que texto incrivelmente belo, Jaque!!!!!!!!!!!!!!!
Jaquelyne Costa disse…
É Gepp, o Jaqueneu desde sua base é construido por essa matéria-prima necessária!O Amor é quem habita este lugar!
Muito obrigada pelo elogio!
Janeflí agradece sua presença!

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